Cidade São Jorge: Planejamento começa no Sítio dos Ribeiro

     O arruamento e início das vendas dos lotes da Cidade São Jorge, em 1960, marca o início do processo de urbanização desta unidade de planejamento de Santo André. Os demais loteamentos virão apenas nos anos 1980, década da ocupação história do conjunto residencial Centreville, financiado pela Caixa Econômica Federal e que encontrava-se semi abandonado. Os anos 1990 assinalaram a interversão oficial da área, quando a Prefeitura inaugura a política de planejamento de bairro no pedaço: o conjunto da população se transformava em agente de planejamento e toda interferência do poder público era feita a partir de amplas discussões populares, o Orçamento Participativo.
Toda a área, historicamente, era a parte remanescente do antigo Sítio dos Ribeiro, conhecido também por Sítio Cassaquera, registrado na Paróquia de São Bernardo desde 1856. O sítio pertencia à família Thon desde o início do século passado.

Início dos anos 1960. Primeira missa rezada na casa do Sr. Salvador, na Cidade São Jorge.

                                             Início dos anos 1960, primeira missa rezada na casa do Sr. Salvador, na Cidade São Jorge.

     A região era muito procurada para a caçadas, a ponto de seus proprietários, Homero Thon Filho e Luciano Thon, solicitarem, em 1949, a interdição da área para a prática da caçadas. A solicitação foi atendida pela Secretaria de Agricultura.
Os lotes de Cidade São Jorge mediam 250 m² e foram vendidos rapidamente. Isso resultou em pressão dos loteadores sobre os compradores. Queriam, os antigos donos, que as prestações fossem reajustadas. Não houve acordo, já que os compradores cumpriam as exigências dos contratos, o que gerou ameaças dos proprietários.
A SAB (Sociedade Amigos do Bairro) de Cidade São Jorge foi criada em 1962 e os melhoramentos demoraram, inclusive a extensão da energia elétrica. A SAB não prosperou, inicialmente. Foi desativada em 1970 e só reativada nove anos depois.
Dos loteamentos mais recentes, o Santo Antônio de Pádua, também integrante do antigo Sítio dos Ribeiro, foi o primeiro a ser instituído, na virada dos anos 1970 para 1980. A seguir vieram o Parque Gerassi, Marajoara I e II e Marek, todos dos anos 1980. Já o Centreville, cujas casas e sobrados começaram a ser erguidos nos anos 1970, sofreu duas ocupações: em 16 de junho de 1982 e em 12 de fevereiro de 1983.
O caso Centreville, mostrou a eficiência de um instrumento inaugurado pelos trabalhadores metalúrgicos do ABC nas célebres greves de 1978 em diante:a Rádio Peão. Foram feitas reuniões preparatórias em São Bernardo, em São Caetano, em Mauá e outras cidades. Reuniões sempre com a presença de 200 trabalhadores ou mais. Nunca vazou nenhuma informação. A primeira notícia pela grande imprensa somente foi dada no dia seguinte ao da primeira ocupação. Vitória da Rádio Peão.


 “O que me marcava mais nestas reuniões era a emoção de ver todo aquele pessoal precisando de um teto decente pra morar e ter que tá pagando aluguel, ter que estar se virando em favelas. Então você no contato com essas pessoas…até hoje me arrepio todo quando falo. Essa emoção, aquela empolgação, te arrepiava todinho. Fora de série”  – depoimento de Dimar Carlos Rosa, um dos ocupantes do Centreville.

Hoje a população do Centreville e dos novos loteamentos ao redor está organizada em associações representativas que discutem com a prefeitura e outros órgãos o futuro do local. Foi assim que nasceu e prosperou o projeto do Marek, Marajoara e Gerassi do planejamento de bairro, inaugurado oficialmente em 1º de setembro de 1991.
As intervenções ocorridas na área quebraram a tradição adotada nas administrações anteriores. Antes, a cidade era pensada e produzida como o local, por excelência, da reprodução de capital, das realizações econômicas. Dava-se espaço à produção e à circulação de mercadorias.
A Prefeitura ao intervir na área do Marek, Marajoara e Gerassi, privilegiou o pedestre. Isto se descortina nos pequenos detalhes. As ruas mais largas ganharam ilhas, para impedir atropelamentos e para disciplinar o tráfego de veículos.
Nesta mesma região, o moradores na época discutiam junto á Prefeitura um projeto para a criação do Parque Guaraciaba, ao redor de um lago em terras do antigo Sertão dos Beber, formado a partir de portos de areia escavados até 1983. Este ganhou o apelido de Tancão da Morte, em razão dos sucessivos afogamentos verificados em suas águas, em especial no período do calor.
Forte movimento popular foi iniciado em 1988 por setores organizados dos lotes ao redor. Os manifestantes exigiam providências das autoridades para se evitar novas mortes. A Prefeitura discutiu o assunto com a própria população e decidiu-se abrir concurso nacional para a escolha de projeto de estudos preliminares do futuro parque. Foi vencedor o arquiteto paulista Zeuler Rocha Mello de Almeida, que preservou no seu projeto toda a área verde do parque e o lago de 40 mil metros quadrados. O parque foi entregue á população em 08 de abril de 1992, nas festividades de 439 anos da cidade.

Celso Daniel                   O prefeito Celso Daniel discursa durante a festa de inauguração do Parque Guaraciaba, em 08/04/1992. Foto: Augusto R. Coelho.

     Infelizmente o Parque Guaraciaba foi desativado alguns anos depois. Mesmo com o seu fechamento ao público, no dia 29 de Janeiro de 2014, o “Tancão da Morte” ganhou destaque nacional nos principais meios de comunicação, por conta do afogamento de cinco adolescentes com idades entre 12 e 17 anos. Na ocasião do acidente, o Prefeito Carlos Grana chegou a cogitar a hipótese de se aterrar o lago.

Scanner_20151101 (3) O Parque Guaraciaba já implantado neste foto de 1992, recebe seus primeiros frequentadores. Foto: Augusto R. Coelho.

Fontes: Rede Bom Dia, livro “A história de Santo André contada por seus personagens”, de Ademir Medici.

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